domingo, 21 de outubro de 2012


Eleições em Fortaleza: sintomas da realidade do Brasil
Por Ygor Coelho*

A cidade de Fortaleza, quinta maior do país e segunda mais desigual da América Latina, teve neste mês uma das campanhas mais apertadas do País, bem como uma das mais surpreendentes em relação às pesquisas, o que tem gerado uma onda de críticas e até pedidos de anulação do pleito nas redes sociais e entre políticos do PDT do candidato Heitor Férrer. Elmano (PT) teve 25% dos votos, Roberto Cláudio (PSB), 23%, e Heitor Férrer, 21%.
A cidade se mostrou nitidamente dividida igualmente em três zonas distinguíveis entre si também pelo aspecto socioeconômico. A Zona Leste de Fortaleza, que inclui novos bairros da classe média e alta e também bairros da classe média baixa, deu mais votos a Roberto Cláudio. A Zona Central, coração da área nobre tradicional – não a nova – e de bairros antigos e mais degradados como o Centro, foi com Heitor Férrer. A Zona Oeste, por sua vez, abrangendo ainda parte do sul do município, a área mais pobre e historicamente esquecida da cidade, foi com Elmano.
Houve uma divisão interessante, porque, embora a tendência tenha sido de os mais pobres votarem mais no PT e os mais ricos votarem mais no PSB, o fato é que a própria “metade rica” (na verdade classe média com bolsões de riqueza) divergiu: a zona “novíssima”, onde estão crescendo aos montes os grandes condomínios e lojas de departamento, ficou com o candidato do governador, jocosamente referido pelo ácido humor cearense com apelidos “carinhosos” como “Pinguim”, “Zacarias”, “Bolinha” e “Tamborete de Forró”; ao passo que o que é o centro histórico e geográfico da cidade, a incluir tanto o degradado Centro como as nobres Aldeota, Meireles, Fátima e Dionísio Torres, ficou com a “terceira via” autoproclamada por Heitor Férrer.
Pode-se ver que Fortaleza, representando num microcosmo o Brasil inteiro, anda dividida em verdadeiros setores geográfico-econômico-culturais. É como se houvesse até mesmo uma classe média “tradicional”, que mora numa parte da área urbana já consolidada e se quer ver como independente e progressista, que é como o Heitor se apresenta; e há uma outra classe média mais e mais concentrada na Zona Leste, área em constante urbanização e talvez tendente a uma estrutura mais isolacionista e de elite (ou que se pretende de elite), votando no candidato do PSB, que é muito bem visto pelo empresariado e tem uma das campanhas mais caras do Brasil.
Retirado do site: dialogospoliticos.wordpress.com
Por fim, tem-se a periferia, principalmente a da Zona Oeste, que concentra a maioria dos cidadãos e a minoria dos investimentos, e que votou mais no Elmano, referido por tantos críticos como o “Poste”. O petista concentrou mais votos justamente na Barra do Ceará e no Pirambu, não à toa as áreas mais beneficiadas pelas obras da prefeita Luizianne Lins naquela região do município.
Isso sugere que a percepção de desastre da gestão do PT em Fortaleza – que pareceria ubíqua se o mundo fosse o Facebook – afetou mais as classes médias e alta. Estas se preocupam muito mais com segurança pública, trânsito (sobretudo para seus veículos particulares), qualidade do asfalto e equipamentos urbanos, claramente pesos negativos na administração de Luizianne Lins. Por outro lado, a população pobre parece ter uma visão um tanto distinta, de um governo insuficiente, mas que deu mais atenção aos seus bairros.
Um leve esforço de compreensão, e não de julgamento, pode auxiliar a entender a dinâmica destas eleições e os meios de conquistar o eleitorado para a candidatura ou a ideologia preferencial de cada um. Os valores e os interesses prioritários mudam de acordo com a realidade conhecida pelo cidadão. A classe média só pode mesmo dar prioridade à sensação de segurança (não obstante seja de competência do Estado, e apenas em termos indiretos do município), às complicações do tráfego resultantes em boa parte da enorme expansão da frota viária (um “problema do desenvolvimento” causado pela expansão do crédito e da classe média) e à má qualidade do asfalto urbano.
Ora, essas pessoas em geral possuem emprego formal, moradia própria, educação e saúde privadas, veículo próprio, pontos de lazer acessíveis a seu padrão de renda. A preocupação com os serviços públicos pode ser-lhes cara, mas não é um ponto de afetação direta em suas vidas. Ademais, não foi na esfera de preocupações da classe média que ocorreram as maiores melhorias do município e do País na última década, inclusive porque algumas dessas conquistas se deram nas questões mais básicas da cidadania e da inserção no mercado de consumo.
Ao revés, a maioria da população, ainda presa à pobreza, tem menos educação formal e menos acesso à informação, o que inegavelmente lhes atrapalha a decisão consciente de seu voto. São também pessoas que, sobretudo há menos de duas décadas, tinham de ter preocupações muito mais frequentes com questões de sobrevivência e dignidade mínima. Estão muitíssimo mais próximas do ponto em que se conquista o mínimo vital e se adentra primeiro no mercado consumidor.
É sensato, ao menos, antes de apontar dedos e “cobrar” explicações pelo seu voto, levar em consideração a possibilidade de que a população pobre realmente sinta que melhorou muito de vida simplesmente porque ainda é pobre o bastante para ainda estar preocupada com aspectos básicos que, de fato, melhoraram rapidamente na cidade e no Brasil, nos últimos anos: emprego, mortalidade infantil, acesso à educação básica, redução da desigualdade de renda, expansão do mercado consumidor, aumento de renda sobretudo nas classes mais baixas, etc. Esses eleitores, embora pobres e pouco escolarizados, não estão sendo “burros”, mas apenas, tanto quanto a classe média, votando de acordo com seus interesses e sua realidade prévia e atual.
É uma pena que as “análises” (sim, entre aspas) de muitos eleitores nas redes sociais e espaços de comentários em jornais na internet tenham tido tão pouca disposição em procurar entender os motivos e as realidades que impulsionaram a configuração dos votos como se deu neste início de outubro. De repente, descobrimos que também a nordestina, gaiata Fortaleza está repleta de suas aprendizes de Mayara Petruso (a hoje notória estudante xenófoba de São Paulo processada quando das eleições presidenciais de 2010). A bem da verdade, não se verificou nada tão acintoso quanto a malfadada estudante disse, mas as reações diante da legítima escolha dos fortalezenses penderam para o tipo de desprezo pela escolha do povo pobre, a crença de que políticas públicas benéficas aos pobres “compram” seus votos embora qualquer pessoa da classe média ou alta jamais se imagine sendo “comprada” em virtude de medidas do Estado que lhe beneficiasse diretamente.
Em resumo, revelou-se mais uma vez a noção de que o pobre tem um voto menos válido ou, no mínimo, é intrinsecamente diferente das demais pessoas quando intervém nos processos coletivos. Infelizmente, muitos eleitores não quiseram refletir sobre o que “faltou” para conquistar mais votos para seus candidatos ou partidos, o que poderia ajudar no próprio êxito futuro deles nas eleições vindouras.
Nada como uma disputa eleitoral acirrada para demonstrar o parco espírito democrático de muitos, que, na maioria involuntária e inconscientemente, seguem à risca a genial ironia de Millôr Fernandes: “democracia é quando eu mando em você, ditadura é quando você manda em mim”.  Seria interessante ter em mente, sempre que a crítica às escolhas eleitorais dos pobres nos vem à garganta, que o único meio legítimo de evitar isso é este: se é para os pobres não decidirem as eleições por mera força numérica, lute muito e eleja conscientemente aqueles que reduzam mais a população pobre a tal ponto que ela passe a ser minoria. Então, certificar-nos-emos de que a classe média decidirá as eleições.

*Ygor Coelho Soares é advogado (OAB/CE 26.289) e graduado em Direito pela Universidade Federal do  Ceará (UFC).

terça-feira, 2 de outubro de 2012


Perca de Identidade: quem o mundo quer nos levar a ser.

Vai parecer meio adolescente, mas acho que saí do casulo agora.
Ou será que ainda estou saindo?
(...)
Conheci o Senhor Jesus de modo pessoal aos 14 anos de idade. Na época, eu ainda fazia o 1º ano do Ensino Médio. Minha sede por conhecê-Lo mais e mais levou-me a ler a Bíblia diariamente, a orar, buscar respostas em livros, aconselhamento pastoral etc.
Cresci... cresci muito na minha fé.
Adquiri sabedoria para discernir e uma convicção arraigada dos valores cristãos.
Na faculdade, fui colocada à prova. Acredito que venci cada uma delas, com a ajuda de Deus, e amadureci muito mais, especialmente em matéria de relacionamentos: compreender, esperar, ter paciência, suportar os defeitos em amor...
Mas agora é diferente.
Parece que tudo isso não passou de um treino para o que está chegando em minha vida nesse momento. A vida real começa agora, com suas lutas e desafios ainda maiores.
Tudo o que eu creio e o que eu sou está sendo testado de diversas maneiras, todos os dias.
Falar a verdade, ser honesta, ter humildade, ser paciente – muito paciente! Chegou a hora de botar a teoria em prática!
A área em que atuo é um poço de vaidade.
A aparência conta muito mais do que o caráter, e o que se carrega no bolso vale mais do que aquilo que se carrega no coração!
Existem leis invisíveis que dizem o seguinte: é preciso que você tenha um Iphone ou similar, um tablet, um carro (de preferência acima de 40 mil reais), roupas finas, acessórios caros, bolsa de couro, caneta de ouro... Talvez com tudo isso eles olhem para você e digam “Doutora Fulana!”
Quando leio o livro de Daniel, sobre os quatro judeus que foram levados para o exílio na Babilônia, fico impressionada em como me identifico com suas lutas!
No capítulo primeiro, Daniel e seus três amigos são levados a aprender a língua, os costumes e a ciência dos caldeus. Alem disso, deveriam se alimentar por três anos daquilo que o rei babilônio desse a eles – e mais: seus nomes seriam mudados!
Uma nova terra, um novo nome, cultura, língua e valores diferentes... era muito fácil se render. Muito fácil se deixar levar.
Mas o coração daqueles quatro jovens foi fiel e temente a Deus. Eles estavam preparados para resistir – e vencer.
Não comeram das iguarias, mas ficaram mais fortes e saudáveis do que os demais jovens exilados. Aprenderam a ciência daquela época, mas usaram-na para a glória de Deus. Resistiram a adoração idólatra ao rei babilônio, e foram livrados da fornalha incandescente.
Sinto que meu chamado é na mesma direção.
Rejeitar a vaidade, a soberba e a ganância típicas do meio em que me encontro. Pensar na minha profissão como uma extensão pelo qual o amor de Jesus possa fluir na vida de outros.
Odeio a mentira, a falsidade e o suborno. Faço coro com o salmista quando diz: Ganho entendimento por meio dos teus preceitos; por isso odeio todo caminho de falsidade (Sl.119:104).
Não é fácil – e nem será nunca.
Mas estou disposta a assumir os riscos.

Faça o meu coração amar mais a sua vontade revelada, em vez de querer as riquezas desta vida! Não deixe que os meus olhos sejam atraídos pelas ilusões do pecado. Dê novas forças à minha alma para prosseguir no seu caminho por meio da sua palavra.
(...)
Falarei aos reis como a vontade revelada de Deus é importante para mim e não ficarei envergonhado.
(...)
Quando estou cercado de problemas e dificuldades uma coisa me anima e consola: a sua promessa me enche de forças e poder para enfrentar a situação.
(...)
O Senhor é a minha maior riqueza!
(Trechos do Salmo 119: versículos 36, 37, 46, 50 e 57)