quinta-feira, 4 de junho de 2015

O Feto que Orava



De repente eu vim a existir.
Não, eu não pedi para nascer. Mas uma força sobrenatural agiu ali, naquele lugar escuro, quente e misterioso: a trompa uterina de minha mãe.
Instintivamente corri na direção daquele lugar onde eu poderia me desenvolver. Crescer, ganhar novas formas. 
Me aninhar no útero materno...
Que delicia!
A sensação de ser recebido! Aquele útero quente, envolto em suas membranas fui molhado por seus fluxos de vida...

Comecei a me alimentar, a me fortalecer. E sentia que uma Força Amorosa derramava sobre mim, pouco a pouco, as virtudes, as características físicas, a personalidade.
Em 10 semanas, meu pequeno corpo estava formado!
Minhas mãozinhas ficavam aconchegadas junto ao peito, minhas pequenas pernas, dobradas junto ao ventre. Meu coração batia com vontade de viver!
E meus ouvidos... Sim, eu já podia distinguir tantos sons. Eu ouvia vozes, pessoas no mundo exterior.
Como seria a vida lá fora? Eu não sabia, mas tinha certeza de que minha mãe, a minha protetora, o meu abrigo, estaria lá para me mostrar tudo.

Ah, sim, eu já conseguia ouvir a voz da minha mãe!
Era o som mais alto que eu conseguia ouvir vindo do lado de fora. Ouvia também o seu coração...a sua respiração...e todos os outros sons do seu corpo. Sabia quando estava feliz, pois as paredes da minha casinha ficavam confortáveis, eu também me sentia bem e alegre. Mas sabia quando estava angustiada! Porque, de repente, a minha casa ficava enrijecida, meu coração batia mais acelerado com o dela, sua respiração ficava ruidosa e eu começava a ouvir o seu choro...
Eu pensava: "Não chore mamãe! Está tudo bem comigo. O meu Criador está cuidando de mim aqui dentro. Está ficando apertado, é verdade, mas Ele me falou que significa que logo vou nascer!"
Eu comecei a orar por minha mãe.
Eu falava com a Fonte da Vida: "Querido Criador, acalma o coração da minha mãe! Ajude-a, pois ela está muito aflita" e o Todo-Amor me dava a certeza de que cuidaria dela e de mim. Por isso eu conseguia continuar me desenvolvendo, crescendo e ganhando novos dons.

Um dia eu escutei vozes.
Era a minha mãe conversando com outra pessoa.
-    Mas eu não quero abortar!
-    Você não vai estragar a minha vida com esse filho maldito!
Senti que minha mãe ficou angustiada mais uma vez. O útero ficava apertado, tenso. Eu queria que ela parasse de chorar. Então eu falava ao Criador: "Ajuda ela!", e sempre recebia resposta do meu Protetor.
Mais tarde eu ouvi minha mãe falar com outra pessoa:
-    Eu vou ter que tirar o filho, amiga, não tem jeito! Se eu não fizer isso, ele manda me matar! Você sabe como ele é violento, e a esposa dele é rica! Ele não quer estragar o casamento por causa de mim...
E chorava noites inteiras a minha mãezinha.
Eu sentia no coração que algo estava errado. Minha mãe estava muito triste, e sentia que era comigo. Mas o amor do meu Amigo Fiel continuava me aquecendo, e me fazendo crescer a cada dia. Se não fosse por Ele, acho que não teria suportado tanto sofrimento.

Alguns dias depois, comecei a ouvir minha mãe falando:
-    É aqui a tal clínica? Será que é seguro?
O útero da mamãe nunca esteve tão desconfortável! Estava tenso, e eu me remexia de todo jeito para encontrar uma posição melhor. E continuei ouvindo:
-    A senhora retira a roupa toda, veste essa camisola, deita, e fica esperando aqui.
De repente o meu Consolador falou comigo: "Ore pela sua mãe! Ela precisa que você ore! Clame com todas as suas forças!"
Então eu comecei a falar e a orar:
"Mamãe, eu te amo!
Peço que escute o meu coração falar com o seu!
Mamãe, eu não sei quais problemas você está enfrentando, mas eu estou aqui para te ajudar!
Mamãe, eu estarei sempre ao seu lado! Vou te abraçar e te beijar com carinho todos os dias!
Mamãe, eu vou ser seu melhor amigo! Cuidarei de você da mesma forma que tem cuidado de mim.
Meu Criador Amoroso, ajuda a minha mãezinha! Mostra para ela que eu sou seu filho querido, que eu vim ao mundo por Sua vontade, para trazer alegria a sua vida! Ajude-a nesse momento, Força Minha!"
Não sei quanto tempo se passou enquanto eu orava assim, mas o coração de minha mãe parecia um martelo. Batia tão forte que pensei que iria explodir!
Ouvi então sua voz dizer:
-    Filho! A mamãe te ama muito! Vamos embora daqui! Nem que eu tenha que fugir, eu vou te permitir viver, meu anjo!
Ela chorava muito e senti que me amava. Sim, ela me amava muito e eu a amava mais do que tudo! Já éramos mãe e filho, e o Criador da Vida nos abençoava.

Dali em diante, pude me desenvolver tranquilamente.
Nasci em uma maternidade, numa madrugada fria, em uma cidade do interior. Mas antes de deixar minha casinha, prometi a mim mesmo e ao Criador: "Vou fazer valer a pena a decisão de minha mãe. Vou nascer para fazer a diferença nesse mundo! E vou dar muitas alegrias a ela e ao Amigo Fiel".


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